segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

OPINIÃO FEMININA!

Após o Pedro Glória me ter adicionado aos colaboradores do blog, não pude logo honrar o compromisso, e por isso, aqui fica o meu pedido de desculpas. Mas aqui estou para falar um pouco sobre a opinião feminina no Savate.
Recuo, então, ao ano de 2001. Ano esse em que tive as minhas primeiras aulas de Savate. Confesso que fui fortemente influenciada pelo meu irmão, que já praticava Savate há algum tempo. A verdade é que sempre adorei desporto, mas nenhuma outra modalidade tomou proporções tão em sintonia comigo própria como o Savate. Sem dúvida, tornou-se numa paixão que já é impossível não fazer parte da minha vida!
Ao início era um pouco estranho ver a reacção de terceiros ao saberem da existência da prática deste desporto, mas mais do que isso, era ver a sua reacção quando sabiam que se tratava de uma rapariga – eu – que o praticava. Aliás, não será exagero referir que tive mesmo situações embaraçosas devido ao preconceito de determinadas pessoas que criam certos estereótipos. Ouvir comentários como: “Boxe? Isso é coisas para homens!” ou “As meninas não dão murros nem pontapés!”. Ora, aqui é que está o erro, e sobretudo, o preconceito! O boxe não é, de todo, um desporto vinculado aos homens. Uma das características do Savate é a estratégia, e dessa estratégia resulta a inteligência e a capacidade de estudarmos o nosso adversário. Isso é inerente aos dois sexos não é? Então porque é que as mulheres não podem lutar boxe, e os homens não podem, por exemplo, ser bailarinos, sem que sejam conotados incorrectamente?
Felizmente, desde há 3 anos, mais ou menos, esse preconceitos têm vindo a diminuir significativamente, aliás, o Savate já se tornou um pouco mais conhecido; embora ainda exista muita gente de que não faz ideia do que o Savate é, já existem algumas pessoas que, pelo menos, têm umas noções, não sendo totalmente desconhecido.
No entanto, o cariz desagradável dessas observações preconceituosas, não foi o suficiente para me demover. Prova é que pratico Savate há quase 7 anos e meio.
Ao longo destes quase 7 anos e meio existem fases boas e fases menos boas. Em certas alturas senti-me a progredir como uma flecha, noutras alturas progredia como um caracol, e noutras alturas ainda, sentia-me como que estagnada. Mas hoje verifico que isso é muito natural, não podemos evoluir sempre da mesma maneira, embora se mantenha a aplicação e o afinco.
Ainda dentro do tema das fases menos boas, gostava de partilhar um “pequeno” episódio. Em Junho de 2006, soube que ia ao Campeonato Mundial de Savate em Paris. Estava muito contente e entusiasmada com a ideia, e estava a trabalhar para o acontecimento com muito envolvimento. Bom, mas a vida prega-nos partidas, às vezes! No mês seguinte, em Julho, caí de cerca de 4 metros, mais detalhadamente, de uma parede de escalada, e parti um braço. Recordo-me que a primeira coisa que disse após ter aterrado no chão foi: “Lá se foi o campeonato...”. E assim foi, uma operação de urgência, dois meses de gesso, e oito meses depois outra operação para retirar os parafusos que tinha colocado na primeira, e ainda a não ida ao campeonato.
A curiosidade desta história está no facto dos médicos me terem dito que muito provavelmente eu não poderia voltar a praticar Savate. Porém, da mesma forma que já os comentários preconceituosos não me demoveram anteriormente, a opinião dos médicos também não foi suficiente. Então, após 2 meses de gesso, e ainda com parafusos no braço, continuei a fazer Savate, tal como aconteceu duas semanas logo após a segunda operação, e meses mais tarde, participei no Campeonato Europeu de Boxe Francês – Savate em Tournai (2007). Quem disse que as mulheres não podem praticar Savate, e que é um desporto designado aos homens?
Para concluir, gostaria de falar um pouco sobre o Campeonato Europeu de Savate em Tournai.
Foi a minha primeira experiência em termos de competição, logo, foi algo completamente novo. Como experiência gostei, achei bestial o inter-câmbio entre as diversas nacionalidades. Por este prisma, todos aprendemos uns com os outros. No que diz respeito à competição em si, foi muito mau. Infelizmente foi um campeonato em que as vitórias já eram conhecidas muito antes do assalto se desenrolar. Os árbitros viravam a cara a muitas coisas, retirando toda a imparcialidade que deveria ser exigida.
Eu fiz 3 combates, o primeiro com uma atleta italiana, o segundo com uma atleta da Suíça, e o terceiro com uma atleta russa. Obtive 3 derrotas e confesso que foi com tristeza, em virtude das duas últimas terem sido derrotas pré-fabricadas. Ou será que o objectivo, em assalto, deixou de ser pontuar face ao adversário? Se assim foi, porque é que a Federação Portuguesa não foi avisada?
Durante o combate com a atleta da Rússia, houve pelos menos 7 faltas provocadas com a tíbia. Sabemos que a partir da terceira falta, é motivo para uma advertência. Porque será que o árbitro não assinalou nem uma única falta?
Fora acontecimentos tristes, fica sempre a paixão pelo Savate, e a progressão quem um campeonato nos faz adquirir pelo imperativo que há em pontuarmos mais do que o nosso adversário, complementando isso com uma boa técnica. Isto acaba por ser o mais importante! Sim, porque Portugal esteve bem representado por todos os participantes, cada um nas respectivas categorias.
Por fim, quero agradecer ao meu irmão Marcelo por ter sido ele a levar-me para o Savate e também pelas suas preciosas dicas. Sem ele nunca se teria fomentado este amor tão grande pelo Savate. Quero agradecer igualmente ao GRANDE MESTRE, Álvaro Terezo, que é um grande professor, e um grande Homem que eu estimo muito, e que se tornou numa peça fundamental na minha formação desportiva e pessoal. Por último, deixo da mesma forma o meu obrigado ao meu amigo António Timóteo e Nelson Vicente, que aquando dos treinos para o Campeonato Europeu em Tournai me ajudaram a perceber como é que uma mulher luta com um homem, incentivando-me a nunca desistir!
Muito Obrigada!
Saudações “Saváticas”!

Sara Flores

2 comentários:

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, obrigado pelo teu elogio. É imerecido.
Em segundo lugar, os resultados que tu consegues em 99% a ti se devem. Tens a força de vontade necessária para fazer mover uma classe inteira de BF Savate.
Em terceiro lugar, orgulho-me de olhar para ti, quer pela tua postura perante a vida, que se reflecte na maneira como escreves, e decobrir que a menina que começou a treinar comigo já não existe. Mudou a pele e veste hoje a de uma senhora, que admiro.
UMA SENHORA MENINA.
Para mim, e já te disse, foste a maior surpresa em Tournai. Para quem nunca lutou e vagamente treinou com elementos do sexo feminino, superaste as minhas expectativas. E a dos teus colegas.
Um beijo.
Álvaro Terezo

Anónimo disse...

Permite-me responder, tardiamente, eu sei, ao teu comentário, Álvaro.
Em primeiro lugar, nem todos os agradecimentos do mundo seriam demais. Falo não só no que respeita ao BF Savate, mas também no que toca a outros domínios. O que seria de mim sem o meu Mestre para me ajudar?!
Em segundo lugar, por muita força de vontade que eu tenha - essa tal força de vontade que faz mover uma classe inteira de BF Savate - não seria nada sem os teus preciosos conhecimentos, e tão pouco sem o teu incentivo. Incentivo esse que eu vejo de uma forma clara em todas as aulas, sendo notória a tua preocupação com cada uma das pessoas, verificando o que estão a fazer mal, corrigindo o que não está bem, e enaltecendo o que está correcto. Não sei se acontece o mesmo com os meus colegas, mas esse método de ensino conquista-me, motiva-me!
Em terceiro lugar, também já te disse, mas acho que nunca é demais dizer estas coisas a quem o merece; essa senhora menina nutre de igual modo uma grande admiração por ti. Muito embora digas que o elogio que te fiz é imerecido, ele está bem vincado nas minhas convicções, e sobretudo tão evidente nessa tua forma de encarar a vida!
Relativamente a Tournai, ainda que enquanto competição tenha sido aquilo que já todos sabemos, valeu muito pela experiência, e mais ainda pelas lições que daí retirei. Essas, ao contrário das vitórias, já ninguém me pode roubar. Mesmo assim, saliento que a possibilidade de participar neste campeonato da Europa não teria sido possível sem a tua ajuda, e definitivamente, sem a preparação que recebi!
Mais uma vez aqui fica o meu Muito Obrigado.
Um beijo grandalhão.
Sara Flores